Caminhos rumo a uma sociedade igualitária
Por que olhar por partes, sem antes compreender o todo? Porque enxergar a
deficiência, antes mesmo de saber mais sobre aqueles que não andam, não
enxergam ou não ouvem? Porque apontar o que o outro não pode fazer, antes de
perguntar o que ele tem a oferecer?
“O modelo dos modelos”
Italo Calvino
Houve na vida do
senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um
modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo,
verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na
experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e
realidade coincidam. [..] Mas se por um instante ele deixava de fixar a
harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a
seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres não eram
de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas.
[...] A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já
desejava uma grande variedade de modelos, se possível transformáveis uns nos
outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se
adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas
realidades distintas, no tempo e no espaço. [...] Analisando assim as coisas, o
modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos
transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para
dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.
Neste ponto só
restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos.
Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade
mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus
“nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça
desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e
de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma linha de conduta da
qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece praticável.
O texto de Italo
Calvino é o retrato da sociedade atual
que utiliza como estratégia, a construção e reconstrução de modelos que
controlam a desigualdade social, excluindo dessa forma todos que não se
apresentam nos conformes ditados.
Vivemos nessa sociedade
de cunho patriarcal e modelo preconceituoso e discriminatório onde as minorias
identitárias como as pessoas com deficiência, homossexuais, crianças mulheres,
idosos, negros e pessoas fora do peso padrão estabelecido, estão fora da norma
vigente e, portanto excluídas do direto de escolha e igualdade de oportunidades.
Um momento
histórico bem recente ocorrido no século XVI é marca de segregação e exclusão
em massa, quando a companhia de Jesus ministrada pelos jesuítas, tinha de um
lado e do outro nas bancas da salas de aula, meninos, filhos de nobres, com
inteligência preservada. Ora se a escolarização era para poucos, os nobres, ficando
os menos abastados economicamente sem essa modalidade educacional, imagina-se
as possibilidades de educação escolarizada para pessoas com necessidades
educacionais especiais e outras minorias que para a sua escolarização, precisam
de MODELOS, ESTRATÉGIA, METODOLOGIAS e CURRÍCULOS que respeitem os diferentes
ritmos de aprendizagem.
Podemos falar em
inclusão numa sociedade onde o IDEB
É o mais baixo do país e a violência
generalizada contra mulheres, crianças e adolescentes alcança índices
alarmantes?
Políticas devem ser
pensadas para a reconstrução de uma sociedade mais justa que promova o direito
de igualdade de oportunidades. Só assim teremos um mundo melhor.
Vale a pena sonhar!