A Educação da pessoa com surdez no contexto escolarizado
(...) esse ser não é no todo surdo, mas há uma parte
com surdez, que neurobiologicamente, o limita, mas que, em contrapartida, o
possibilita e potencializa ao desenvolvimento dos processos neuros sensorial-perceptivos.
Daí, termos certeza de que os processos perceptivos, linguísticos e cognitivos
das pessoas com surdez poderão ser estimulados e desenvolvidos, tornando-as
sujeitos capazes, produtivos e constituídos de várias linguagens, com potencialidade
para adquirir e desenvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas
também ler e escrever as línguas em seus entornos e, se desejar, também
falar. (DAMÁZIO, 2010)
A
educação da pessoa com surdez apresenta-se em um panorama histórico de exclusão
e sofrimentos e acordo com as pesquisas da estudiosa Lorena Kozlowski, a
trajetória histórica da pessoa surda na sociedade corresponde a um “pêndulo
oral versus gestual”.
DAMÁZIO (2005) comenta em seu artigo “Educação Escolar da Pessoa com Surdez: uma rápida
contextualização histórica”, que antes do final da idade média, o
filósofo Aristóteles afirmava que a linguagem era o fenômeno que dava ao ser, a
condição de humano e sendo assim, o desenvolvimento da inteligência estava
condicionada a presença da linguagem. Dessa forma, segundo esta afirmação, a
pessoa com surdez não era humana e de acordo com DAMAZIO (2005), “as pessoas
com surdez eram consideradas como incapazes de gerenciar seus atos”, sendo
excluídas da sociedade, e tendo os direitos a educação e outros benefícios
sociais tirados.
A Idade
Moderna muda esse cenário por meio do monge beneditino Pedro Ponce de Leon
(1510- 1584) que ensinava pessoas com surdez, filhos de famílias abastadas
economicamente, a falar, ler, escrever e rezar. Gerolamo Cardamo deu nesse
momento histórico, o impulso inicial às pessoas com surdez. Ele afirmava que
essas pessoas tinham capacidades de aprender a ler e escrever; e a surdez não
alterava a inteligência.
No texto: A proposta bilíngüe
de educação do surdo, Lorena Kozlowski amplia olhares, tecendo propostas de
inclusão da pessoa com surdez nas diversas ambiências escolares e demais
contextos de socialização informando que a proposta do bilinguismo “surgiu no
final da década de 70” .
Ainda conforme
pesquisas dessa estudiosa no texto em estudo:
A Proposta Bilíngue não
privilegia um língua, mas quer dar direito e condições ao individuo surdo de
poder utilizar duas línguas; portanto, não se trata de negação, mas de
respeito; o individuo escolherá a língua que irá utilizar em cada situação
lingüística em que se encontrar.
Assim, o bilinguismo não dá preferência a uma
língua isolada, mas promove a liberdade à pessoa em pauta da utilização de duas
línguas, e a escolha de qual utilizar em determinado contexto.
KOSLOWSKI
(1998) afirma que “esta situação bilíngue ocorre pela
presença da língua da comunidade ouvinte: a língua oral/escrita, e a língua da
comunidade surda: a língua de sinais”.
Outras pesquisas no campo da
educação da pessoa com surdez, pautada por (Drasgow,1993 apud Kozlowski), informam que os estudos atuais “mostram a
tendência para a educação bilíngue/bicultural da criança surda, na qual a
língua de sinais é considerada a primeira língua da criança surda e a língua
oral a segunda língua”.
A pessoa com surdez, no caso do
bilinguismo passa da deficiência, como foi vista durante anos, com um
diagnóstico de doença, para a diferença. Dessa forma, suas habilidades são
potencializadas e desenvolvidas com reconhecimento e respeito aos direitos de
expressão lingüística. Essas
pessoas deparam com diversos obstáculos para serem incluídas na educação
escolar, devido a essa limitação sensorial de cunho auditivo. Diante desse
desenho social brasileiro, as escolas não estão estruturadas para receber as
diferenças e DAMÁZIO (2010) afirma que “Muitos alunos com surdez podem ser
prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo,
sócio-afetivo, lingüístico e político-cultural e ter perdas consideráveis no
desenvolvimento da aprendizagem, ficando aquém dos demais colegas de escola”.
Ainda nas palavras de DAMAZIO (2005) em seu artigo Educação Escolar Inclusiva
para Pessoas com Surdez na Escola Comum Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos:
apesar de estudos e pesquisas desenvolvidas no mundo, as escolas “não
contemplam o fazer educativo escolar na verdadeira dimensão inclusiva”. Neste
ponto é de suma importância que se faça uma reflexão acerca da dificuldade de
inclusão da pessoa surda na sociedade. Ora se observarmos a configuração da
sociedade ocidental, veremos que há um binômio de desigualdades sociais, gerando
por sua vez, relações de poder e nesse caso, de acordo com esse padrão social,
as relações entre as pessoas surdas e as pessoas ouvintes são assimétricas,
estando os privilégios e direitos sociais reservados aos através ouvintes.
A
educação tem o poder de mudar esse cenário e as práticas sociais excludentes por
meio de diversos recursos informativos que enfatizam os direitos, prerrogativas, deveres,
possibilidades, potencialidades e liberdade em prol do acesso e permanência
social das pessoas com surdez.
Referências
bibliográficas:
KOSLOWSKI, L. A Proposta bilíngüe de educação do surdo. Revista Espaço.
Rio de Janeiro: INES, nº10, p.47-53, dezembro, 1998. A
Proposta bilíngüe de educação do surdo. Revista Espaço. Rio de Janeiro: INES,
nº10, p.47-53, dezembro, 1998. A Proposta
bilíngüe de educação do surdo. Revista Espaço. Rio de Janeiro: INES, nº10,
p.47-53, dezembro, 1998.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação
Escolar da Pessoa com Surdez: uma rápida contextualização histórica. 2005.
DAMÁZIO,
Mirlene Ferreira Macedo. Educação
escolar inclusiva para pessoas com surdez na escola comum - questões
polêmicas e avanços contemporâneos/ ensaios pedagógicos: construindo escolas
inclusivas, p 108 a
120. Brasília, 2005.
DAMÁZIO, M. F. M.; ALVES, C. B. Atendimento
Educacional Especializado do aluno com surdez. Capítulo 1 e 3. São Paulo:
Moderna, 2010.